sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Silêncio na comunidade Punk


O vocalista da banda Cólera e grande precursor do movimento punk, Redson (Foto:Reprodução)
Por Bianca Santos

A comunidade punk perdeu, na noite desta terça-feira (27), um de seus maiores precursores: Edson “Redson” Pozzi. O vocalista da banda paulistana de punk-rock Cólera foi encontrado morto em sua casa depois de sofrer uma hemorragia interna causada por uma úlcera que se rompeu. O enterro foi realizado ontem (29), às 10h, no Cemitério da Vila Alpina, em São Paulo.


O anúncio da morte do músico foi feito pela própria banda, Cólera, através do Facebook. Foi postada a seguinte mensagem:
"QUERIDOS que acompanham a história do Cólera: infelizmente nosso amigo Redson partiu..... Será lembrado eternamente pela grande obra e motivo maior de sua vida: o Cólera! Fica em paz, meu amigo: FAMÍLIA CÓLERA ETERNAMENTE!"

Redson foi um dos primeiros brasileiros a se preocupar em trazer a ideologia e as influências musicais do movimento punk ao país, até então somente visto na Europa e America do Norte. A banda Cólera foi formada em 1979 e lançou durante esse período seis álbums em estúdio. Além do mais, o vocalista e guitarrista também é lembrado pelo seu repertório, de conteúdo pacifista e conscientizador.



A morte prematura de Redson marcou fortemente todos os que acompanharam e fizeram parte do movimento punk. Tanto que, na data do falecimento, o nome de Redson foi indicado ao Trending Topics (nomes mais citados), no micro-blogging Twitter. Infelizmente uma perda inestimável tanto para o movimento punk, quanto para a história da música e cultura brasileira.


Botinada: O Punk Brazuca

Por Bruna Madeira

Botinada: A Origem do Punk no Brasil, documentário produzido por Gastão Moreira, é indispensável pra quem quer entender o surgimento do movimento no Brasil

Revista Pop lançamento em 1977 (Fotos: Reprodução)
O ex-VJ da MTV Gastão Moreira, jornalista, apresentador e colecionador de relíquias musicais, produziu o documentário que relata a origem do punk no Brasil, pra quem quer entender o sobre o surgimento do movimento, em meados do ano de 1976.
O início do documentário já é brilhante, porque cita uma frase de Chico Buarque, muito pertinente ao tema: "Se punk é o lixo, a miséria e a violência, então não precisamos importá-lo da Europa, pois já somos a vanguarda do punk em todo o mundo." 


Revista Pop visão interna 1976 (Fotos: Reprodução)

Segue com imagens, vídeos inéditos e depoimentos esclarecedores, que nos auxiliam na construção do cenário e na compreensão dos fatos.
O movimento foi surgindo aos poucos no Brasil - não se sabe ao certo se seu início foi em Brasília ou São Paulo -, a sociedade estava começando a gritar e lutar por sua liberdade de expressão, utilizando a estética, os costumes e a música para realizar esse desejo reprimido diante do final da ditadura militar.
A participação do elenco é monstruosa e de peso, sustentando credibilidade e fidelidade, retratada por ângulos jamais explorados pela mídia, tornando viável a compreensão de toda a trajetória do movimento e sua força no país.

Botinada: A Origem do Punk no Brasil - Parte 1
Botinada: A Origem do Punk no Brasil - Parte 2
Botinada: A Origem do Punk no Brasil - Parte 3
Botinada: A Origem do Punk no Brasil - Parte 4
Botinada: A Origem do Punk no Brasil - Parte 5
Botinada: A Origem do Punk no Brasil - Parte 6
Botinada: A Origem do Punk no Brasil - Parte 7
Botinada: A Origem do Punk no Brasil - Parte Final                                                                 
O DVD está disponível em locadoras e pelo canal Youtube. O documentário foi lançado em 2006 e possui 110 minutos de duração. Foram 4 anos de pesquisa, 77 entrevistas com punks, jornalistas, bandas e simpatizantes do movimento. O preço pode variar de R$ 40,00 até R$ 65,00 e, conta com material extra - como poesia e literatura punk - além de um CD com as principais bandas e músicas de sucesso como: Pânico em SP - Inocentes, Vivo na Cidade - Cólera, Agressão/Repressão - Ratos do Porão...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Punk de Butique

Supla em conversa com a matriarca do visual punk de butique, Vivienne Westwood. (Reprodução)

Por Camila Pereira 

A estética punk surgiu junto ao movimento na Inglaterra por volta de 1970, servindo como "armadura" para enfrentar as ruas, o caos do desemprego, e a revolta das classes trabalhadoras, justamente contra a perspectiva da vida burguesa.
O ícone do visual punk no Brasil vem de famílias burguesas, tem nome e sobrenome, mas muitos o conhecem como Supla, seu nome em cartório consta como Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy. O que o torna esse "punk" granfino é justamente seu estilo de vida burguesa, frequenta as mais badaladas festas, é descendente das mais importante famílias paulistas, a Matarazzo e Barão de Vasconcelos.

Supla no camarote Devassa, no Carnaval  2011. (Reprodução)
O papito ficou conhecido em todo o país quando participou do reality show Casa dos Artistas em 2001, seu visual assustou, mas conquistou carisma do público garantindo risadas.
Supla é a personificação desse estilo punk de butique, usa coturno Steve Madden e casaco Vivienne Westwood, é inegável sua fonte de inspiração, Billy Idol.
O cabelo descolorido é mantido espetado através da clara de ovo, segundo o próprio Supla, não existe gel que resista ou seja mais potente que a clara de ovo.

Billy Idol. (Reprodução)

Por mais que seja divertido, ele não é aceito no movimento, mesmo se montando de punk, Supla não é agregado, e um dos motivos que o afasta do movimento é justamente ter vindo de família rica. Já levou pancada em balada, seus clipes estão sempre entre os piores, e a comparação com Billy Idol é ridicularizada. No entanto, mesmo muitos torcendo o nariz, ele consegue atenção na mídia seja como for.

sábado, 24 de setembro de 2011

Uniforme Punk

Os integrantes da banda Sex Pistols eram a maior referência para o estilo punk (Foto: Site Oficial Sex Pistols)

Por Bianca Santos

O estilo punk é mundialmente conhecido por alguns elementos básicos que o definem. Jaquetas e calças de couro são um dos itens obrigatórios no guarda roupa dos punks. Acrescidas manualmente (do it yourself) de tachas e artigos metálicos, as peças agregam um ar de “poder” à imagem. Sid Vicious, baixista da banda Sex Pistols e grande ícone da cultura punk, era constantemente visto usando peças nesse material. 

A calça jeans também é um elemento super importante na construção da estética punk. Quanto mais rasgada, suja e velha, melhor. Aqui, a intenção está diretamente ligada à atitude transgressora principalmente à sociedade e à própria moda. Um punk nunca quer ser visto como uma pessoa que se preocupa com a imagem, mas sim o inverso. Ele quer causar choques através dos mais minuciosos detalhes, inclusive com as roupas. Outro item que sempre é identificado na vestimenta punk são os cintos, na maioria das vezes, acrescidos de tachas e metais (novamente para afirmar poder). 

Jaquetas de couro customizadas com tachas e rebites eram peça obrigatória no guarda-roupa punk (Foto: reprodução)

A bandeira do Reino Unido também é tema constante na vestimenta punk. O símbolo virou estampa de camisetas, shorts, calças, lenços, etc. No movimento, ela é muito utilizada para simbolizar o berço do estilo, que nasceu na Inglaterra, e também remete às críticas feitas ao governo e instituições monárquicas. É quando, novamente, o punk se envolve ao anarquismo e à luta por uma nação livre de governos e de ideais políticos autoritários. 

A cor vermelha sempre aparece em alguma peça, ou até mesmo em detalhes. Novamente a idéia de transgressão vem à tona, já que a cor nos remete a temas incomuns como fogo e sangue. Também ligados a esse aspecto, estão as camisetas com frases transgressoras. Muitas camisetas traziam mensagens críticas, palavrões e símbolos nazi-facistas, a fim de polemizar e agregar rebeldia. 

Nos pés, só tênis e coturnos. Foi quando surgiu a marca Converse, conhecida até hoje e vista constantemente nos pés de jovens do mundo inteiro. Na época, o tênis simbolizava uma crítica a classes sociais mais altas e ao trabalho. Nada de social, de sapatos clássicos. A ordem da vez era unir conforto à “não submissão aos ideais e modismos da época”. 

Garotos com roupas características ao movimento punk (Foto: reprodução)

A mensagem dos meninos do Sex Pistols é realmente uma só: transgressão. E foi a partir dessa banda-vitrine que o estilo se propagou com força, não só pelo Reino Unido, como no mundo. E propaga até hoje, inclusive no Brasil. Porém, de uma forma diferente: sem ideais e bordados em tecidos finos por grandes casas e estilistas.

A cara do punk

Garotas com típicas maquiagens punk (Fotos: reprodução)

Por Bianca Santos

Olhos bem marcados em tom de preto, boca borrada de batom vermelho e cabelos espetados. Qualquer pessoa ao ler ou ouvir essa definição com certeza irá associá-la automaticamente à estética punk. De fato, e como podemos conferir nas fotos acima, é assim que os membros desse movimento costumavam se "montar". Para uma juventude na qual a maior satisfação era a de transgredir e se rebelar, esses elementos eram acessórios obirgatórios na luta pela desconstução da imagem.

Quanto mais chocante e feio, melhor. Os punks buscavam chamar atenção justamente através do que era grotesco e repugnante aos olhos da sociedade elitista e, até então, eles cumpriam essa tarefa muito bem. Mas foi no meio dessa história que a indústria da moda tratou de tirar a sua vantagem: foi agregando aos poucos, bem sutilmente, tudo o que os seguidores do movimento punk tinham construído até então: inclusive a maquiagem.

 Primavera/Verão 2012 da Iceberg, desfilada na Semana de Moda de Milão (Fotos: reprodução)

Primavera/Verão 2012 da Gucci, desfilada na Semana de Moda de Milão (Fotos: reprodução)

Hoje, mais de 40 anos depois de seu surgimento, é possível encontrar os elementos do movimento punk na moda e em seu extenso mercado. Seja nos editoriais de grandes revistas, como a Vogue, ou na passarela das mais conceituadas marcas do momento, é possível encontrar constantemente pitadas sutis de transgressão e rebeldia.

Nesta temporada de moda que está sendo realizada em Milão o olho preto, como o usado pelos punks, foi a aposta de duas grifes: a italiana Gucci e a francesa Iceberg. Mas não é só nas passarelas que esse tipo de maquiagem aparece constantemente. Modelos e cantoras também gostam de adotar esse estilo mais "pesado". Não é de se admirar que, em breve, essa maquiagem seja desfilada nas boates mais caras de São Paulo, vestindo o rosto da high-society. É a cara do punk: a cara da moda.

As cantoras Avril Lavigne (à esquerda) e Taylor Momsem são adeptas do olho preto e marcado (Fotos: reprodução)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Princesas do punk

Por Camila Pereira

Moda Punk aparece religiosamente em semanas de moda.

O punk rock virou hit, grifes como Balmain e Cristian Louboutin se inspiram em referências como Johnny Rotten (vocalista dos Sex Pistols) para suas coleções. E, de repente, peças rasgadas, tachas, jeans detonados, couro, caveiras e as cores vermelho e preto marcaram essa última temporada.

Desfile Balmain Primevera-Verão 2011. (Reprodução)


Sapato Louboutin Spikes.(Reprodução)


A rebeldia pertinente ao movimento punk se instalou na moda. Mas, quem não gosta de andar por aí sujo e com maquiagem borrada e descabelado, deu um jeitinho de se fazer ver. As blogueiras, mesmo em saltos altíssimos e cabelos impecáveis, também aderiram à moda. E  caveiras começaram a aparecer nos mais diversos looks : camisetas, saias, bolsas, anéis, sapatos. Claro que repletos de strass, purpurina, ou qualquer coisa que as fizessem brilhar.  

Blogueiras e suas respectivas caveiras. (Reprodução)



No auge do movimento punk a ideia era justamente não seguir a moda, o DIY (do it yourself ,ou, faça você mesmo) era fundamental em qualquer peça, eram roupas improvisadas, rasgadas por eles mesmos, cheias de alfinetes. E traduziam tudo que fosse caro ou desnecessário como ato cafona.
O que a moda atual traz são jaquetas custando cerca de R$15 mil, sapatos por volta dos R$10 mil, e as it girls pagam por isso sorrindo, tá na moda né?!

Jaqueta Balmain, presença punk nas ruas.(Reprodução)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O grito dos Pistols

Por Bruna Madeira


Camiseta à venda no site 

God save the queen                                           
She ain't no human being                                 
There is no future                                                
In England's dreaming                                       

Deus salve a rainha
Ela não é um ser humano
Não há futuro
Nos sonhos da Inglaterra

When there's no future
How can there be sin
We're the flowers
In the dustbin
We're the poison
In your human machine
We're the future
Your future

Quando não há futuro
Como pode haver pecado
Nós somos as flores
Na lixeira
Nós somos o veneno
Em sua máquina humana
Nós somos o futuro
Seu futuro


Logo no primeiro trecho da letra de God Save The Queen é possível sentir um ataque ao conformismo social e à submissão que se passa na Inglaterra. A Inglaterra não tem salvação. A ironia mostra que todos dependem de um só - “a Rainha”, no caso -, assim como a grande massa da população acredita em um só “Deus”.     
A mensagem da música é mostrar que, enquanto todos dependerem e acreditarem exclusivamente em um só comando, irão deixar de ter e de acreditar em seus próprios sonhos, desejos e vontades.  ‘Nós somos as flores, na lixeira’ mostra claramente que o movimento punk é o que se destaca dentro de todo o ‘lixo’ que a sociedade se encontra. Eles se autodenominam a salvação.    
No trecho 'Nós somos o veneno em sua máquina humana', dá pra sentir a cutucada na Revolução Industrial, afirmando que os punks são o diferencial dentro de um contexto totalmente moldado e padronizado pela burguesia e, claro, pela aristocracia.         

Sex Pistols (Repdrodução)

sábado, 10 de setembro de 2011

Uma sociedade de Becky Bloom's

Cena do filme Os Delírios de consumo de Becky Bloom, baseado no livro de Sophie Kinsella (Reprodução)


Por Bianca Santos

O filósofo francês Gilles Lipovetsky não abordou somente a questão da identidade na obra O Império do Efêmero,  escrita em 1987. Ele foi além e levantou questões a respeito do consumo e de como tudo se tornou tão descartável. 

O autor explica que a moda, dentro de suas infinitas possibilidades, trouxe à sociedade moderna uma necessidade de consumir exacerbadamente, sem limites e precedentes e de forma cada vez mais volátil e expressa. Com a influência do capitalismo no mercado e na indústria da moda, a roupa passou a adquirir status fetichista, já que atingiu o nível de luxo e inovação.

Desde então, essa situação só tem se agravado, como podemos observar na sociedade atual, mais de 20 anos depois, na qual o consumo virou uma grave questão socioeconômica e ambiental.

A escritora britânica Sophie Kinsella criou uma personagem que simboliza fielmente o retrato dessa sociedade compulsiva e dependente do mercado da moda. Rebbeca Bloom, mais conhecida como Becky Bloom, é uma jornalista e - como a maioria das pessoas nessa profissão - não tem muito dinheiro na conta bancário. Mesmo assim, Becky tem o desejo de consumir loucamente tudo o que é exposto nas vitrines da 5ª Avenida. Soa familiar para você?

Estamos fadados à essa dependência cada vez mais, mesmo sabendo dos riscos e prejuízos que ela nos ocasiona. É o mundo em que vivemos. Mundo da moda efêmera, mas que satisfaz as Becky Bloom's que existem dentro de cada um de nós.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Anarquia Punk

Por Bruna Madeira

Fashion Splash é um programa exibido no canal Glitz - TV por assinatura - comandado pela top Marina Dias, todas as quartas a partir das 20:00 horas.

Diante de tantas disponibilidades de vídeos, às vezes fica difícil achar um interessante com conteúdo bacana.
O programa Fashion Slash dedicou alguns minutos e realizou uma matéria deliciosa que conta um pouco de tudo dentro movimento punk.
Trechos com entrevistas com estilistas consagrados, jornalistas,  imagens do estilo punk, referências, história e, claro música, muita música.
Dinâmico, visual e alternativo, a programação prende a atenção sem forçar, banalizar ou fazer qualquer tipo de apologia ao movimento. 

                                                     FASHION SPLASH - ANARQUIA -  Bloco1
                                                                 FASHION SPLASH - ANARQUIA -  Bloco2
                                                                      
 FASHION SPLASH - ANARQUIA -  Final

Heroína da moda

 Kate Moss posando para editorial de moda. (Reprodução)


Por Camila Pereira


A aparição da supermodel Kate Moss fumando no desfile da Louis Vuitton na semana de moda em Paris acendeu questões que andavam mornas.
Se voltarmos ao início dos anos 1990 é possível entender o termo que torna Kate essa heroína as avessas do mundo da moda. A top foi precursora da linha, heroin chic, sempre com o ar esquálido e seu inseparável cigarro em mãos.
Top com seu inseparável cigarro. (Reprodução)
Kate apareceu na passarela fumando (no dia contra o tabaco na Inglaterra, sua terra natal), a atenção foi alcançada. Mas nos faz pensar se usar a top fumando serve também para influenciar essa moda.
Modelos que hoje são sinônimos de saúde e bem estar já estiveram envolvidas na vida pessoal, ou pelo menos estamparam algum editorial de moda nessa linha - heroin chic-  que faz referência clara à heroína (droga) propriamente dita, consumida em larga escala na época.
São constantes os escândalos envolvendo pessoas no mundo da moda sendo internadas em clinicas de reabilitação, pegas em flagrante, e consequentemente estampando as capas de revistas.
A moça da semana de moda parisiense, conhecida além das passarelas por seus envolvimentos com bad boys roqueiros, e por ter fotos suas expostas onde aparece cheirando cocaína, publicadas por tablóides ingleses - fato causador da perda de contratos milionários com grandes marcas -, é a personificação dessa ilustre vida glamurosa e doentia que se esconde por trás das cortinas dos desfiles.


Meia rasgada virou modinha

Por Bruna Madeira
Atualmente as meias não são mais usadas só no inverno, em qualquer estação do ano estão super em alta e cada vez mais customizadas


Do táxi ao chão, meia rasgada não tem mais padrão (Foto: Reprodução)

Inovar a roupa para sair do modismo na forma de se vestir foi a marca matriarcal do movimento punk. Não é a toa que as meias-calças rasgadas eram usadas propositalmente para chocar.
Socialmente, a meia-calça sempre foi criada com o intuito de valorizar as pernas, modelar e esconder eventuais falhas. Quando desfiava ou rasgava, destruía o look - e, chegando em casa, a meia ia diretamente pro lixo.
Hoje, no entanto, o estrago tornou-se luxo.
Atualmente, assistimos a meninas desfilando nas ruas com suas meias arrastão rasgadas, mas se trata de mero modismo.

Meias rasgadas nas ruas (Foto: Reprodução)
Ou seja, o que o movimento punk usou para transmitir diferença, chocar e chamar a atenção para um descontentamento político e social, caiu na banalização e virou modinha.
Grifes conceituadas aderiram ao uso do acessório, desmoralizando quem a usa com outro pretexto. 

Desfiles Ballmain - Alexander Mc Queen (Foto: Reprodução)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Moda e Identidade


o filósofo frânces Gilles Lipovetsky (Reprodução)
Por Bianca Santos

O filósofo francês Gilles Lipovestky é um dos maiores pensadores – se não o maior - no que diz respeito ao mundo da moda e tudo que a envolve, assim como comportamento, cultura e, principalmente, o consumo. O livro “O Império do Efêmero”, escrito por Lipovestky em 1987, é praticamente leitura obrigatória para todos que desejam se aprofundar nos conceitos e paradigmas desse universo tão peculiar, que envolve diretamente todos os cidadãos da era em que vivemos.

No livro, Lipovestky faz a primeira leitura e análise intelectualizada sobre a influência da moda no comportamento social e como ela se tornou parte da história e a essência da sociedade contemporânea. Primeiramente, o autor estabelece a teoria de que a moda, diferentemente do que muitos pensam, não se trata apenas de um universo fútil e superficial. Diferente disso, já que a moda possui forte influência na vida das pessoas e logo pode ser considerada uma instituição tão social quanto a Igreja Católica – é claro que em proporções diferentes.

Desde a década de 1960, a sociedade e a moda sofreram diversas modificações. Esta última passou a fazer parte maior na vida social, com a ruptura do Haute Couture (alta costura), antes viabilizado e consumido apenas pelas classes mais altas. Com essa queda, a moda se democratizou e se tornou mais acessível, mais desejada pela sociedade. É quando a moda se transforma em item da indústria, inclusive da cultural - se não propriamente dela.

Naquele período os produtos começaram a ser feitos em larga escala e, consequentemente, surge o desejo de se adquirir o que é lançado como tendência pelo mercado. Através disso nasce também a liberdade de expressão, revelada em forma de roupa. O ser humano tem, a partir desse momento, o direito de escolher e julgar o que quer vestir de acordo com suas necessidades, anseios, gostos e ideologias.

É quando as pessoas passam a escolher e criar os seus próprios estilos, baseados não só na ação de se vestir, mas também no modo de se comportar, pensar e agir. O resultado de tudo isso foi o nascimento e a ramificação de diversos estilos diferentes que, em sua essência, traziam novas possibilidades - e personalidades.

Para Lipovetsky a moda só se iguala às instituições que organizam a sociedade, pois através dela pode-se adquirir o poder de livre escolha e de formação de opiniões. A moda permite que o ser humano constitua a sua própria identidade - um elemento que, certamente, muitos ainda estão à procura.



O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas.

Gilles Lipovetsky
1989
Editora Companhia das Letras

Cadáver Fashion

Por Bruna Madeira

Rick Genest, o Zombie Boy (Reprodução)

Será que ainda dá pra ser irreverente no mundo atual?

A sensação que temos, é de que nada nos surpreende mais. Os 15 minutos de fama virou natural hoje em dia.

Você já deve ter visto por aí um cara de seus 25 anos, com um corpo 100% tatuado, certo? OK. E qual a novidade nisso?

Rick Genest, mais conhecido como Zombie Boy, é o atual modelo canadense que ganhou destaque no mundo da moda, justamente por sair da padronização imposta pelo mundinho fashion, onde os modelos esqueléticos são os mais assediados e aplaudidos.

Será que foi uma ideia subliminar em utilizar um modelo tatuado como uma caveira, para provocar? Ou apenas uma estratégia de marketing?

Pensado ou não,também não importa. Basta dizer que ninguém menos que Nicola Formichetti, da grife Thierry Mugler, o elegeu como sua “musa” para suas criações das últimas coleções.

Nem a inovadora, Lady Gaga, conseguiu se render ao modelo, tanto que e o chamou para participar de seu vídeo cliple “Born This Way”.

A originalidade e o fato de ser um “cadáver”, é uma atitude de protesto, assim como o movimento punk e não apenas estética.

Não importa a forma, o jeito, o motivo e como será exposto seus ideais. O importante é revolucionar, mostrar pro mundo que é possível ser aceito do jeito que você e se curte ser.

Julgamentos e apontamentos como marginalidade, rebeldia, ou um quer se aparecer, acontece com todos, a todo o momento.

Zombie se tornou um cadáver, uma vez que para os punks, o cadáver simboliza a igualdade, sem distinção de cor, credo, religião e status social.

Seu diferencial o atraiu para o mundo da moda (Reprodução)

Passos e tragos

Performance de Lady Gaga na passarela. (Reprodução).
Por Camila Pereira 


Um certo elemento “cênico” apareceu em desfiles importantíssimos na temporada de moda outono-inverno 2012 em Paris. O cigarro chamou atenção não apenas por estar presente nos desfiles da Louis Vuitton e da grife Thierry Mugler, mas também pelas responsáveis em portar o dito cujo.
Top no desfile da Louis Vuitton. (Reprodução).

Kate Moss, rainha do junkies, e Lady Gaga, o centro de atenções mais polêmico dos últimos tempos, esbanjaram todo o poder que lhes foi concedido atravessando a passarela em imagéticos passos e tragos.


Segundo Marc Jacobs, responsável pela Louis Vuitton, o cigarro fazia parte da construção do desfile inspirado na pornografia dos anos 40 e não foi pensado para provocar, já que estava inserido nessa representação teatral pertinente ao fim do desfile.

Associar o cigarro e a moda não tem nada de inovador, a referência ao cigarro foi preponderantemente importante no cinema com as divas dos anos 50, e por algumas décadas ainda foi traduzida em status e glamour. O ícone de elegância Coco Chanel, também teve lá sua dose de contribuição para a moda enxergar no cigarro, essa simbologia de poder. No entanto, o status do cigarro vem sido insistentemente negado pela indústria, fumar tornou-se um ato brega para muitos dos que viam nele algum apreço.

Campanhas e leis antifumo se proliferaram nos últimos anos, a proibição de propagandas do cigarro tornou-se realidade, e essa imagem de poder foi se desmistificando. E mesmo nesse contexto politicamente correto, a moda resolve resgatar o uso do cigarro para compor certos cenários.

Vale pensar então se está ao alcance das grifes e de seus criadores ditarem não só as peças que devem ser vestidas na próxima estação, mas também as atitudes e costumes que trazem consigo cada coleção?

É nítido o poder que a moda ocupa na nossa sociedade, através dela vemos expressamente o momento sociocultural em que vivemos. Ela não cita necessariamente só tendências, é também reflexo da atualidade e das mudanças que estamos apostando em dado momento.


Por isso seria necessário pensarmos com mais cuidado o que pode ser considerado moda, ou não, e ter consciência que necessariamente cada coleção desenvolve-se para passar seu ideal e sua visão do mundo, cabendo a cada um de nós, consumirmos o que traduza as NOSSAS idéias.